Educandos descrevem os sentidos da Educação Popular como possibilidade de inclusão social e garantia de direitos no Polo BA

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O Encontro contou com a participação de aproximadamente 78 pessoas.

O V Encontro de Educandos e Educandas do Polo Bahia aconteceu no dia 2 de dezembro, na Igreja Batista Nova Alvorada em Feira de Santana-BA, com tema central “Educação Popular em Direitos Humanos”. 

Estiveram presentes no evento os representantes dos seis núcleos que compõem o polo (Portal do Sertão, Litoral Norte Agreste baiano, Litoral Sul, Recôncavo, Metropolitana de Salvador e Sertão do São Francisco); educandos(as) e coordenadores(as) locais, além dos parceiros locais (Anisvaldo Daltro, pastor Jonatas Leite, Vilobaldo Machado, Wendel Tosta, Sandra Macedo e Vanuza Amorim); o articulador social Luciomar Machado; a integrante do Fórum Estadual de EJA, professora Fátima Urpia; a coordenadora pedagógica nacional Claudilene Gonzaga e a equipe de polo, totalizando cerca de 78 participantes.

O encontro teve diversas apresentações artístico-culturais dos educandos, como o educando Armando Del’ Rei, do Sul da Bahia, que expressou de forma musical a relevância do Projeto em sua vida e a importância da esperança.

Encontro Estadual de Educandos02 12 2015__

A Igreja Batista Nova Alvorada, em Feira de Santana-BA, sediou o Encontro.

Durante a mesa de abertura, com o articulador social Luciomar Machado, os parceiros locais Anisvaldo Daltro, o pastor Jonatas Leite e a coordenadora pedagógica nacional Claudilene Gonzaga, a coordenadora de polo Claudiane Batista realizou uma breve contextualização do V Encontro Estadual e seus objetivos, e disse aos educandos: “Nós precisamos sonhar, nós precisamos viver os dias, e o Projeto MOVA-Brasil tem nos proporcionado isso… pensar no dia de hoje, mas projetar o futuro”.

Ao fazer uso da fala, o pastor Jonatas Leite comentou a importância da coletividade:

“O olhar para o diferente é que nos faz ser quem somos, o viver com o outro é que nos faz ser quem somos, mas a união de pronomes (eu e tu) requer construir um outro pronome, que é o “nós”. O “nós” só existe quando o “eu” e o “tu” conseguem conviver, e isso só vem através da educação, da libertação de alguns preconceitos que às vezes são cadeias que nos impedem de conviver com o outro. Eu acredito no MOVA, porque o projeto MOVA-Brasil transforma!”

Durante os diálogos da mesa de abertura, Claudilene Gonzaga relatou:

“As pessoas com autoridade para falar aqui hoje e emitir suas vozes anteriormente silenciadas, são vocês, educandos e educandas”.

Parafraseou a musicalidade do educando Armando Del´ Rey (Núcleo Litoral Sul), que retrata o trabalhador que, em síntese, é o sujeito da EJA – pessoas que não se reconhecem como artistas, poetas, pois lhes foi negado o direito de acesso às letras, o que os impede de se apropriarem de outros direitos; lembrando que a alfabetização é um ponto de partida e que a continuidade amplia esta conquista.

Na sequência houve a composição da mesa de educandos (mediada por Claudiane Batista), com seis educandos representando cada núcleo, dando depoimentos sobre suas experiências no Projeto MOVA-Brasil e relacionando seus relatos à temática central e aos eixos estudados nas turmas:

“Hoje o MOVA-Brasil veio para trazer grandes oportunidades para a gente, pessoas da roça, que não tivemos oportunidade de estudar. E hoje a gente teve oportunidade de ser chamado para compor uma mesa com pessoas que se sentem com direitos iguais, direitos de quem é grande, direitos de quem é pequeno. Nós mulheres da roça temos nossos direitos iguais, que seja preto, que seja branco, velho ou novo”. (Educanda Maria das Graças, Núcleo Sertão do São Francisco).

“Esse projeto MOVA-Brasil veio como um dilúvio pra mim, porque você morar em Salvador e ver muitos ônibus…e pra você sair tem que saber o qual pegar, para não pegar errado. E você às vezes pergunta às pessoas e as pessoas lhe respondem errado ou com má vontade, então você não sabe o ônibus que pegar; mas graças ao projeto MOVA-Brasil estou desenvolvendo minha leitura e podendo me locomover sem ter que perguntar… estou aqui até o final do Projeto e pretendo continuar a estudar”. (Educando Carlos Alberto, Núcleo Metropolitana de Salvador).

“Na minha época eu não tive educação, chegou uma diretora lá em casa mas meu pai respondeu que eu não precisava estudar não, porque ele é portador de deficiência, não vai não… Eu mesmo sai à luta… trabalhei na prefeitura 17 anos, hoje sou aposentad. Não sabia ler e nem escrever, só enganando… mas não estava enganando as pessoas não, estava enganado a mim mesmo. Mas graças a Deus esse projeto MOVA-Brasil com a parceria da Petrobras chegou ali até nós, vocês podem ter certeza que hoje sonho muito além da imaginação com a educação”. (Educando Ednaldo, Núcleo Recôncavo).

“Eu vou contar um pouco da minha vida: eu aos oito anos comecei a trabalhar em casa de família, nunca fui à escola para aprender a fazer nada porque para sobreviver eu tive que trabalhar para ajudar. Hoje eu agradeço a Deus por esse Projeto, pra eu poder assinar meu nome, e através desse Projeto e a mobilização na minha comunidade fiz meus óculos. Esse MOVA-Brasil é muito bom”. (Educanda Selma, Núcleo Litoral Norte).

A professora Fátima Urpia participou da mesa com os educandos e realizou um diálogo dinâmico sobre Educação Popular em Direitos Humanos como instrumento fundamental de exercício e de busca de direitos, e falou:

“A maioria dos brasileiros não tem o direito de escolher, não há possibilidades de ir à escola, de comer o que se deseja comer, de vestir as roupas que cada um gostaria, poder ir e vir com dignidade. Isso é liberdade, perante a lei isso é igualdade”.

 

A partir do diálogo sobre o tema os participantes foram divididos em quatro rodas de prosa para discutir propostas de acordo com os seguintes subtemas: “Gênero”, “Continuidade na EJA”, “Sustentabilidade Socioambiental” e “Igualdade Étnico-Racial”.

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Os educandos tiveram a oportunidade de falar sobre suas experiências com o Projeto MOVA-Brasil.

As vivências propostas pelas mediadoras reafirmaram os princípios da Educação Popular: o círculo, a troca, o acolhimento e os saberes agregados como aprendizado coletivo, que foram destacados como aspectos que diferenciam a prática do Projeto MOVA-Brasil da educação bancária. As propostas construídas nas diferentes etapas do encontro foram apresentadas na plenária, e todas foram aprovadas pelo exercício livre e democrático através do voto.

O encerramento foi feito com um cordel (abaixo), com o objetivo de valorizar a cultura local.

“O nível dos debates no Encontro traz a certeza do sucesso e compromisso de todos com o trabalho desenvolvido no Projeto MOVA-Brasil. Sinto-me feliz e com sensação de rumo certo”, comentou Claudiane Batista.

 

 

 

Cordel de Encerramento do V Encontro Estadual de Educandos e Educandas do Polo Bahia

Boa tarde povo querido

Que se encontra neste lugar

De uauá estou vindo

Escutem que vou falar

Foram tantos desafios

Queria te contar

Mas na coordenação confio

Sei que não vão falhar

Com o MOVA-Brasil

Aprendi a sonhar

A mulher não é sexo frágil

Isso já deu pra comprovar

Respeito e igualdade

É preciso relembrar

Independente de idade

O bom mesmo é praticar

Entristece-me saber que ainda existe

O preconceito e o racismo

Em relação à raça e cor

Eita bicho triste

Ou mal que causa dor

E por falar em sustentabilidade

Precisamos repensar

Reutilizar e reduzir

Não dá mais pra adiar

É nossa responsabilidade

Os recursos preservar

Além de ler e escrever

Eu também aprendi a refletir

Cobrar os meus direitos

E deveres cumprir

Ao sair da sala de aula

Uma coisa decidi

Fazer a diferença e nunca desistir

Uma coisa fico insatisfeito

O MOVA dura apenas uma gestação

Aí sim ficaria perfeito

Se demorasse um tempão

Vou ficando por aqui

Muito obrigado pela atenção

Desejo bom encontro

Um beijo no coração

Por: Terezinha Batista Santos


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