Resignificando a História: um olhar sobre o Quilombo Fazenda Machadinha

Com base na premissa que construímos o mundo cotidianamente, como afirma Paulo Freire: “O mundo não é. O mundo está sendo…”, e, partindo do pressuposto da necessidade de um trabalho coletivo para provocar uma mudança de mentalidade nesta sociedade elitista e preconceituosa é, que nos movemos inquietos(as) pela percepção das desigualdades e injustiças que permeiam as histórias de vida que se entrelaçam dentro do Projeto MOVA-Brasil.

Histórias estas que, além de proporcionarem a troca de experiência e produções de saberes impulsionam as ações de mobilização do Polo, como a realidade apresentada no Quilombo Fazenda Machadinha, no município de Quissamã, onde seus moradores, 8ª geração de descendentes de escravizados, permanecem instalados dentro das senzalas e ainda utilizam esta nomenclatura para identificar suas residências, o que foge de toda a construção histórica do termo Quilombo como espaço de resistência.

Esta realidade ultrapassou o âmbito da sala de aula-comunidade e fez com que o Quilombo Fazenda Machadinha fosse inserido no PEPP – Projeto Eco-Político-Pedagógico do Polo Rio de Janeiro, de forma a garantir o debate e aprofundamento das questões relacionadas a esta comunidade. Neste sentido, como forma de aproximar o Polo a esta comunidade para discutir as questões percebidas, realizamos um encontro com um grupo de moradores do quilombo.

Realizado nos dias 26 e 27 de setembro, em Tanguá, o Encontro com Quilombolas da Fazenda Machadinha teve os objetivos de: I) fortalecer a autonomia dos(as) quilombolas envolvidos/as neste processo; II) dialogar e construir propostas de ação para o verdadeiro exercício de cidadania; III) oportunizar o direito de expressão; IV) apresentar os impactos do Projeto MOVA-Brasil junto aos quilombolas da Fazenda Machadinha; V) possibilitar a troca de experiência entre os participantes do encontro e; VI) promover a aproximação dos quilombolas da Fazenda Machadinha com os órgãos governamentais e não governamentais que trabalham nas áreas de promoção de políticas públicas para os territórios quilombolas.

Abrindo o encontro com os Quilombolas, a convidada Célia Cristo, pedagoga e Coordenadora Pedagógica do CAPEM – Centro Aplicado de Pesquisa em Educação Multi-Étnica, a partir do debate sobre o significado do símbolo africano Sankofa (que, segundo a filosofia africana, significa, aproximadamente, voltar ao passado para resignificar o presente) e a dinâmica “do coisário ao relicário” que consiste em dar sentido e agregar valores a “coisas” que vistas isoladamente não teriam significado ou importância para qualquer pessoa que não fosse a própria dona do objeto, fez um diálogo de sensibilização que proporcionou uma leitura de mundo pela ótica dos quilombolas moradores da Fazenda Machadinha, observando as percepções identitárias e provocando a resignificação de conceitos e atitudes dos participantes como marca a fala descrita abaixo:

“A partir de HOJE não chamaremos mais o lugar onde moramos de SENZALA, passaremos a chamar de CASA. Começamos HOJE uma nova história.”
Quilombolas da Fazenda Machadinha

E, ainda neste Encontro, os quilombolas dialogaram diretamente com Paulo Roberto dos Santos, Presidente do CEDINE – Conselho Estadual do Direito do Negro, e João Carlos Araújo, representante da Fundação Cultural Palmares, onde puderam tirar dúvidas e construir propostas de encaminhamentos para incentivo ao resgate cultural e a construção da autonomia dos quilombolas, por meio da educação cidadã e de auto sustentabilidade baseada na geração de trabalho e renda a partir da economia solidária.

O encontro deu início à construção de uma parceria entre o Quilombo Fazenda Machadinha, o Projeto MOVA-Brasil, o CEDINE e a Fundação Cultural Palmares que buscarão trabalhar em conjunto para possibilitar o resgate da autonomia da comunidade quilombola, pois como a tribo africana Ubuntu, acreditamos que a unidade, a fraternidade, o compartilhamento e o trabalho coletivo constroem ações sólidas capazes de modificar a vida de todos(as) os(as) envolvidos(as) no processo, afinal, tal como o significado da palavra Ubuntu:“sou quem sou, porque quem somos todos nós”.


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