Os 12 anos do MOVA-Brasil nos 15 anos do FSM

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Atividade autogestionada do MOVA-Brasil no FSM.

No contexto dos 15 anos do Fórum Social Mundial Temático, que acontece em Porto Alegre, de 19 a 22 de janeiro, o Projeto MOVA-Brasil organizou a formação da coordenação dos 10 polos e realizou a atividade autogestionada intitulada: “Os direitos dos jovens, adultos e idosos à educação pública de qualidade: as particularidades do projeto MOVA-Brasil”, no dia 20 de janeiro, das 8h30 às 12h.

A abertura da atuividade foi realizada pela diretora pedagógica do Instituto Paulo Freire, Francisca Pini, a qual acolheu os participantes e apresentou a concepção do Círculo de Cultura, que parte de um processo educativo horizontal para a construção dos saberes. Após a apresentação de todos os participantes, iniciou-se a exposição do Projeto MOVA-Brasil. Na metodologia de trabalho a experiência do Projeto foi o fio condutor e cada polo fez uma exposição retratando parte do processo de desenvolvimento do Projeto.

A introdução feita por Geanne Campos, coordenadora do Projeto no Rio de Janeiro, destacou que o MOVA-Brasil foi concebido no contexto do FSM em 2001. Acrescentou que nestes 15 anos do Fórum, o Projeto – que tem 12 anos de vida – esteve presente em 10 deles e que vem incorporando e intensificando as temáticas que são pautadas no âmbito do Fórum, como as questões de gênero, socioambiental e étnico-raciais.

Iran Gomes, coordenador do Polo Ceará retratou o processo de mobilização e seleção dos alfabetizadores e alfabetizandos, com destaque ao atendimento a grupos prioritários observando sempre a demanda para alfabetização como critério para definição da instalação das turmas.

Geanne Campos prosseguiu explicando que o processo de alfabetização e formação é pautado pela teoria do conhecimento formulada pelo educador Paulo Freire e nos estudos de Emília Ferreiro sobre a psicogênese da leitura e da escrita. Citou o estudo feto pelo IBGE/2014, que aponta o número de mulheres com um índice menor de escolarização, tendo os negros o maior número de analfabetos em relação a população branca. “Números que evidenciam o racismo e sexismo, portanto, estes temas são priorizados no processo formativo dos educadores e nas salas de alfabetização, com os educandos para contribuir com uma educação transformadora e emancipadora”.

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Elenice, do Polo Alagoas.

Elenice Toledo, coordenadora do polo Alagoas, retratou a Leitura do Mundo do processo de alfabetização. “O ponto de partida do processo de alfabetização é a realidade dos educandos, a partilha de como cada um percebe sua realidade e desperta para a ressignificação no decorrer das vivências metodológicas”. Disse que o papel do educador é fundamental no auxílio ao descortinar e desnaturalizar a realidade. As fragilidades e potencialidades são mapeadas e a base cultural dos(as) educandos(as) é evidenciada na Festa Comunitária Cidadã, quando são socializadas a Leitura do Mundo inicial e a celebração do encontro e das descobertas que a comunidade faz do seu próprio território.

Virgínia Almeida, coordenadora do Polo PE/PB retratou os Temas Geradores tratados pelo Projeto MOVA-Brasil e enfatizou que não se trabalha com cartilhas, mas a partir da realidade. As palavras – temas geradores que são suscitadas por meio da realidade – são problematizados em sala, por meio do círculo de cultura. Desse modo, emerge o planejamento e são eleitas as situações significativas para todo o processo didático-pedagógico.

Maria Gonçalves, do polo Maranhão abordou o acompanhamento pedagógico, com destaque para o planejamento teórico-metodológico, o diálogo permanente com os diferentes sujeitos e a presença nas salas de aulas e comunidades para se aproximar e conhecer cada vez mais a realidade dos(as) educandos(as).

Já Claudiane Batista, coordenadora do Polo Bahia, refletiu sobre a avaliação dialógica. Explicou que a avaliação não tem dia definido, mas diariamente são feitas intervenções. O processo é dividido em três momentos, sendo o primeiro passo, conhecer o que os educandos e o que eles já sabem. “Os educandos são sujeitos do processo de avaliação, participam da escolha das atividades que compõe seus portfólios tornando a avaliação um momento mais leve, desmistificando a ideia de que é algo pesado e punitivo”.

Josileide Silveira, coordenadora do Polo Rio Grande do Norte retratou o trabalho como direito humano. Disse que a Leitura do Mundo inicial proporciona aos educandos a possibilidade de acessar o direito ao trabalho. As mulheres, em sua maioria, são atendidas nas salas de alfabetização e também na inserção em cursos de formação profissional mobilizados pelo Projeto, por meio de parcerias. A experiência do MOVA tem impulsionado a criação de políticas públicas, como no Estado do Rio Grande do Norte, por meio da Secretaria Estadual de Educação.

Alice Aidem, coordenadora do polo Amazonas, apresentou o Encontro dos Educandos(as) como o momento de construção, de voz e de formulação de propostas para as diversas políticas sociais. “Este momento fortalece para o exercício da cidadania ativa e a intervenção nas políticas públicas”.

Claudiane Batista enfatizou que o Projeto tem Metas em relação à formação profissional e em relação ao encaminhamento para a continuidade dos estudos na Educação de Jovens e Adultos, por isso, é possível mensurar as conquistas do ponto de vista qualitativo e quantitativo.

Daiane Marize, do Polo Minas Gerais falou sobre as formaturas. “É um momento de confraternizar com a comunidade e familiares os saberes adquiridos pelos educandos no curso de alfabetização. Este momento reafirma a autoestima, a identidade de cada um e, em especial, a alegria do acesso ao direito à educação”.

 

Contribuição dos parceiros

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Mara Cruz, da FUP.

Mara Cruz, representante da Federação Única dos Petroleiros contou que a proposta do MOVA-Brasil, há 12 anos, foi recebida como um grande desafio na FUP, e que tem sido grande aprendizado para a FUP e para os sindicatos nos estados. “O resgate da cidadania é o que nos faz reafirmar o compromisso não só com os trabalhadores da categoria sindical, mas com a classe trabalhadora de toda a sociedade. Os resultados nos direcionam para a manutenção da parceria e a defesa do Projeto”, disse. Explicou que o Projeto atua, geralmente, em comunidades aonde o poder público não atende, embora a realidade de quando o projeto teve início tenha se modificado com os investimentos sociais do governo federal, com a eleição de Lula.

Relatou que nestes 12 anos de Projeto ouviu muito depoimentos. Um deles, de uma turma no Ceará. “As pessoas se perceberam lesadas pelo dono da venda que administrava seus cartões de benefícios, e a partir do Projeto MOVA-Brasil conseguiram assumir o controle e a administração de seus recursos. O empoderamento das pessoas, o reconhecimento do seu potencial, faz acreditar que esta é uma imensa contribuição para reduzir o analfabetismo”. E reforçou que a parceria com a Petrobras e a atuação dos articuladores em diálogo com o IPF revela que ainda há muito por ser feito pela sociedade para que se tenha cada vez mais sujeitos de direitos e deveres na sociedade brasileira.

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José Barbosa, da Petrobras.

O representante da Petrobras, José Barbosa, afirmou que não há outro jeito de construir uma sociedade melhor se não for de forma coletiva. “A Petrobras é resultado da mobilização da sociedade brasileira, como estamos vendo aqui neste Fórum, pessoas reunidas e sonhando com um mundo melhor. A Petrobras é uma empresa diferente pelo seu compromisso e responsabilidade social, que só veio se fortalecer após o Governo Lula.” Informou que, a partir de 2003, um conjunto de projetos e programas que buscavam atender aos anseios sociais foram implementados na Petrobras. Na área social, cultural e ambiental foram muitos investimentos ao longo dos últimos anos, com muitas parcerias firmadas e nesta caminhada a Petrobras buscou integrar as ações no Programa Socioambiental, que está em vigência. “Os projetos não são da Petrobras, são da sociedade, nós apenas patrocinamos. A utopia é o que nos conduz. Estamos vivendo um momento de crise, mas olhar esta história [12 anos de MOVA-Brasil, nos 15 anos do Fórum] aponta que temos motivos para comemorar nossas conquistas e continuar nos organizando para a transformação e inclusão das pessoas com os interesses coletivos, inclusive dentro da empresa, para superar a lógica cartesiana”.

Barbosa relatou que o Projeto MOVA-Brasil expressa que há um Brasil muito bom acontecendo e que “nós estamos contribuindo para isto. Apesar do que a mídia diz, nós somos trabalhadores da Petrobras e estamos a serviço da sociedade defendendo a empresa como um bem do país. Temos um desafio que é disputar a política e a disponibilidade de recursos para dar continuidade a esta parceria e aos investimentos sociais”.

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Mauro Silva, do MEC

Mauro Silva, representante do MEC, afirmou que o governo não muda o cenário social e educacional do país sem o apoio da sociedade brasileira. “Partimos do princípio da educação de jovens e adultos como direito. Hoje há no Brasil 81 milhões de pessoas que ainda não concluíram a educação básica. Este número é alarmante, somado aos mais de 13 milhões de analfabetos. São números assustadores. 50 milhões de pessoas não tem ao menos quatro anos de estudos. Há que ser muito ousado para superar este quadro de analfabetismo funcional no país.” Para tanto, Mauro revelou que ainda precisam ser criadas muitas redes de parcerias. A EJA precisa superar a ideia compensatória passando a ser mais inclusiva e emancipadora. “Vimos que a alfabetização não está apartada da escolarização, e também do processo de profissionalização. Este tem sido o tom da política do MEC nos últimos anos, e nos alegra ter essa parceria com o Projeto MOVA-Brasil para a eliminação do número de pessoas analfabetas”.

Contribuições da plenária

João Antônio de Moraes, da Fup, afirmou que a energia é um bem social e não uma commodities. “Lutamos na campanha ‘O petróleo é nosso’ e defendemos que o petróleo seja da nação. O nosso modelo de sindicato cidadão organiza o trabalhador para atuar em espaços além do chão da fábrica.” Saudou os educadores do Projeto MOVA-Brasil que se dedicam a realizar esse trabalho e libertar o povo da opressão.

Aldemir Caetano, articulador do Polo Amazonas, disse que os relatos do MOVA-Brasil demonstram a preciosidade do trabalho e justificam o investimento da Petrobras neste trabalho e nesta equipe que faz o Projeto e contribui com uma nova cultura política, teórica e pedagógica e com a libertação das pessoas.

Daniel parabenizou a atividade e contou que trabalhou por duas décadas na Petrobras, na região amazônica. Destacou o papel da eleição do governo Lula para que o Projeto pudesse apresentar esta contribuição na sociedade brasileira.

Propostas da atividade autogestionada

Criar um plano de comunicação que assegure visibilidade à Educação de jovens e adultos e idosos. Na reestruturação das políticas do MEC está previsto investir de 2017 até 2027 como a década da EJA.

Atuar mais intensamente em rede e de forma conectada para assegurar a transversalidade dos temas e maior mobilização e participação coletiva.

– Propor à Organização do FSM metodologias que dialoguem com a transversalidade das temáticas, para superar a pulverização e a fragmentação dos debates e da participação popular.

– Conquistar a sociedade, por meio da divulgação das experiências, que tem apresentado uma intensa participação social e apresentado resultados efetivos nas comunidades e cotidiano da vida social.

– Construir novas parcerias e relações com os governos. O FSM surge como espaço de resistência de diversos segmentos, que se fortalecem e reorientam os rumos. E agora, o que precisamos fazer depois destes 15 anos e inovar. A FUP está à disposição para colaborar neste novo momento com os seus parceiros e governo para a transformação da sociedade e eliminação do analfabetismo.

– A educação de jovens, adultos e idosos precisa assegurar ao público idoso que também é acometido por deficiências, o código escrito. As políticas educacionais precisam garantir este direito.

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Participantes da autogestionada do MOVA-Brasil.

MOVA-Brasil na Marcha de Abertura do FSM Porto Alegre

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O Fórum Social Mundial Temático em Porto Alegre, que celebra os 15 anos de existência, teve início na terça-feira (19/01), na capital gaúcha, com a tradicional marcha de abertura. O Projeto MOVA-Brasil participou da caminhada junto com milhares de participantes do evento.

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