Uma bisneta do Cangaço entre os colaboradores do MOVA-Brasil

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“Tenho muito orgulho de ser bisneta do Cangaço”, diz Rivalda

 

 

Rivalda dos Santos, estudante de serviço social e coordenadora do Núcleo de Serra Talhada, em Pernambuco, fala sobre seu parentesco com Lampião e a história do Cangaço em seu município, conhecido como a capital do Xaxado.

Nascida em Serra Talhada, município localizado a 415 km de Recife, Rivalda dos Santos tem 33 anos e uma bela história para contar. Coordenadora do núcleo do Projeto MOVA-Brasil na cidade, ela se orgulha do trabalho realizado no Projeto e de sua trajetória pessoal, ligada a um dos principais fenômenos socioculturais no Brasil: o Cangaço.

Por parte de mãe, Rivalda é bisneta de cangaceiros e tem parentesco com Virgulino Ferreira, o Lampião (1897-1938). Conhecido como o “rei do Cangaço” e “governador do Sertão”, Lampião organizou homens e mulheres para lutarem contra as injustiças num tempo em que o Estado era muito ausente.

As atitudes violentas do período do Cangaço afetaram a cidade de Serra Talhada, que por muito tempo ficou conhecida pelo resultado da violência (e não pelas suas causas geradoras). Por outro lado, o período deixou um legado importantíssimo no campo cultural brasileiro, o famoso Xaxado, dança típica do Cangaço. O termo xaxado tem origens no tratamento dado a terra para o plantio do feijão, e os compositores dessas músicas eram os próprios agricultores. Após cada combate, Lampião utilizava a dança para relaxar.

“Tenho muito orgulho de ser bisneta do Cangaço”, confessa Rivalda. Confira, abaixo, um bate-papo com ela.

Rivalda, pela sua relação pessoal com o Cangaço, você poderia nos contar como era a participação das mulheres no movimento? E a relação dos cangaceiros com as mulheres em geral?

Maria Bonita entrou no Cangaço em 1930. Era casada e muito oprimida pelo marido. Fugiu com Lampião para se libertar da opressão em que vivia. No Cangaço, havia uma relação diferenciada do homem com a mulher, pois eles cuidavam da mulher, responsabilizavam-se pelos afazeres domésticos. Havia uma disputa no Cangaço para saber quem presenteava mais a mulher. Tinha, também, uma parte triste: as mulheres não podiam engravidar e, quando isso acontecia, tinham de doar a criança.

Você se orgulha de ser parente do Cangaço?

Sim, tenho muito orgulho de ser bisneta do Cangaço. A forma que tenho encontrado para continuar o legado cultural é a de compor um grupo de dança. Participarei do Encontro Nordestino de Xaxado, no próximo mês de junho, que contará com uma peça de teatro sobre a morte de Lampião.

E o Xaxado? Você gosta da dança?

Danço há nove anos, e já me apresentei em várias capitais brasileiras – e também no exterior. Até a minha filha, de 4 anos, já está matriculada na escola de Xaxado.