“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”.
Paulo Freire
Ao encerrar a etapa e avaliar as aprendizagens dos sujeitos envolvidos (educandos/as e educadores/as), é emocionante ver o resultado da experiência da alfabetização na vida das pessoas. O educador Maurício da Silva, do município de Boca da Mata (AL), relata um pouco dessa caminhada, por meio dos relatos de educandos(as).
O educador descreve esses momentos de conquista, ocorridos na vida de educandos. Cícero Vieira dos Santos, trabalhador rural, 40 anos de idade, que não teve oportunidades de estudar quando mais novo. Resolveu entrar no MOVA-Brasil apenas com o intuito de aprender a escrever seu nome. Em seu depoimento relata:
“Me matriculei no Projeto MOVA-Brasil em 15 de junho de 2015. Fui à primeira aula do MOVA, achei um pouco diferente, pois o professor falava muito numa tal ‘história de vida’. Fiquei me perguntando o que aquilo tinha a ver com a escola. Mas fui percebendo que se tratava de uma forma diferente para que a gente pudesse se conhecer melhor. Eu desenhava, brincava, era muito bom, tinha até lanche, mas o que me deixou mais contente foi quando comecei a perceber que estava aprendendo de verdade. A primeira palavra que li foi “SAPO”. Me senti ainda mais seguro quando precisei levar meu filho ao médico para realização de um exame. Antes, quem o acompanhava era minha mulher e nesse dia ela não pôde ir. Foi preciso que um responsável assinasse a ficha de autorização para que fizesse o exame. E ali, pela primeira vez, consegui assinar meu nome. No outro dia, quando fui trabalhar, em vez de colocar o dedo pintado, disse ao apontador (responsável em pegar o documento): me passe a caneta que hoje vou assinar. Ele ficou olhando para mim surpreso, enquanto eu assinava. Me perguntou quem tinha ensinado. Ai falei: agora tô estudando no MOVA-Brasil”.
E continuou: “Posso dizer que hoje estou realizado, pois não me sinto diferente de ninguém. Vou mudar até meus documentos para não ter que pintar meu dedo nunca mais. Nunca pensei em chegar a realizar esse sonho, mas graças ao convite do professor e do meu esforço, que mesmo chegando cansado, do campo, não desisti”, finalizou Cícero.
O educando Miguel Aurino da Silva relatou: “Esses dias passou um carro diferente na rua. Notei que não era daqui. Comecei a olhar a placa, fui juntando devagarzinho e li: ‘Campo Belo – Minas Gerais…’ Vi ali que estava aprendendo mesmo”.
Maria das Dores da Silva, ex- trabalhadora rural, com 50 anos de idade, que também não teve a oportunidade de estudar, pois teve que ingressar no corte de cana para ajudar sua família, relata:
“Quando recebi o convite para estudar recusei. Tinha acabado de ficar de beneficio da Usina e não pensava mais em estudar. Então foi necessário abrir uma conta no banco. Pelo fato de ser analfabeta, tinha que fazer uma procuração no nome de outra pessoa para que pudesse receber. Fiquei muito triste e aí sim decidi estudar. Senti muita dificuldade, mas aos poucos fui me adaptando. Meu professor dizia que não desistisse, pois logo estaria lendo. No 6 de janeiro de 2016, em uma reunião integrada do MOVA-Brasil com a Agenda 21, a moça que estava falando passou uma lista para assinar, peguei a caneta e, pela primeira vez, consegui escrever meu nome de caneta. O que me deixou mais feliz não foi a ideia de não precisar mais de procuração, mas poder assinar o documento de proprietária da minha casa que comprei com o dinheiro das contas da Usina quando saí. Hoje, posso dizer que quero continuar a estudar pois sei que posso ir mais longe”, conclui emocionada.